Agora ele está em minhas mãos pulsando... Vivo.
Pulsa durante a madrugada e todos os desejos e referências sexuais são derivadas dele.
O arranquei e ele é vermelho, dá vontade de lamber.
O gozo se torna algo angustiado, buscando a morte da dor, do prazer à dor a morte e sepultamento do que fora prazer.
Em pensar que estava prestes a me desfazer dele. Não! Vou comê-lo. Melhor assim...
Não quero ouvir tudo novamente, todas as palavras que já foram ditas.
Mude pelo menos o timbre, que escorram palavras e que essas frases montadas sejam verdades e não um monte de códigos triviais jogados ao vento.
Finjo...
A dor é localizada.
Escorre um pouco de seu vermelho quase vivo - quase morto pelos braços
-Acho bonito de ver-
Tinha medo de ele ser metafísico, mas, você me ajudou, tirou a prova dos noves e resolvi conferir.
Agora caminho pelas ruas e te apresento minha nova posse tangível aos olhos de todos.
Olhe! Era para ti. Coloque o dedo ai bem no ventrículo... Qual? Tanto faz direito ou esquerdo, vamos nos perder a todo custo, de todos os jeitos, não é assim que as coisas funcionam?
As forças diminuem, o tempo se esvai e ambos sem conseguir movimento ou contrações.
- Mas, é tudo tão bonito!-
Ainda resta tempo...
Aperto-o e a textura suculenta o sangue escorre mais como uma calda.
Coloco-o numa baixela antiga de prata ou ouro branco português. Aquelas peças herdadas de família, das mulheres de minha família. A peça tem estória... Gostaria de escutá-las, não sei mais se há tempo para saber o que de fato ocorreu. Se ainda é possível me entregar a investigações.
Observo o quanto posso ou quanto o tempo nos permitir.
E fico na dúvida hesitante...
Devorá-lo ou contemplá-lo até a brevidade que me resta?