A dor invadiu meus músculos, meus cabelos, eriçou minha pele. Jantou meu ar de manhã clara e a cerejeira azul royal de dias tristes, idos vencidos ... Sou branca, sou dor, sou nuvem, sou nada. Talvez o céu azul e a incógnita de verde ar. Estou tremendo e estou à flor da pele. Sou febril e estou pulsando.
Meus músculos doem, minha cabeça já não pensa e meus órgãos não existem. Sou um palpitar de esperanças findas, loucas, sensitivas e sensuais. Elas estão no abismo, num rapel sem volta, sob uma pedra escorrega no ar. Estou no fim do poço azul, no lago lodo cristalino do céu da manhã.
Estou no fundo do lago, no espelho invertido de cristal. Observo o céu azul distante de meu olhar. Meu coração quer parar de bater. Um inseto está zumbindo, louco a dar voltas, pelo jardim seco que cerca a água completa de desilusão.
Sou triste e me sinto árvore. Não tenho raízes e estou prestes a ser esmagada, cortada, arrancada. Estou dilacerada. Do fundo do lago, do abismo, de minha boca, saem bolhas de silêncio. Em meus olhos, o crepitar se cala, o espaço umedece e o fogo de minha pele se extingue.
Estou sozinha. A madeira em mim se quebra. Ouço um zumbido. Estou cansada.
Meus ossos partidos riem do músculo frágil, da alma escassa e de meu órgão, que não quer palpitar. Agora, sou invertebrada. Sou volúpia, sangue e nada. Meu corpo dói e meu coração não existe, não pulsa. Melhor assim. Proteção. Sangrar sem dor e sem amor.
O zumbido que não para, penetra em meus ouvidos e em minhas entranhas... Estou sozinha, estou cansada e há um inseto.
Minhas asas estão grudadas, estou no fundo do lago lodo poço. Tento respirar e encontrar a superfície, tento encontrar uma saída. A luz clara está acima, a película transparente de azul claro, ainda está distante. O calor aperta, minha febre sobe.
Quero um último suspiro, mas o zumbido... O último suspiro deve ser como um zumbido retilíneo, baixo, uniforme e prolongado... Deve ser como um inseto doente. Estou cansada, estou sozinha.
O quadro de água de cristal se reflete em meus olhos secos, fixos, duros e está impregnado em meu espírito marejado de suor. Eu tento sair, mas o percurso é longo e parece que não se completa, se dilata e perdura no tempo... Vejo o céu, a cerejeira e o inseto a dar voltas. Ouço o barulho, sinto a febre.
Quero desistir, mas ele ainda pulsa. O órgão.
Num inesperado impulso líquido, involuntário, rápido e inverossímil, de corpo desfigurado e alma sem desenho, nado; largo as asas de anjo mutilado e chego à superfície, chego ao quadro de cristal. Estou sem ar, respiro. Outra vez e sempre.
Por que volto? Por quê? Deixem-me em paz de lagartixa fria, seca e transparente. O instinto não me deixa ir. Gostaria de poder parar. Isso dói. Mas tenho que continuar pulsando para me dilacerar outra vez.
Meu corpo invertebrado, molhado, como lei de Sísifo, outra vez, repleto de lodo, de sangue fria, de repteis dilacerados, de garças comidas,de algas sem vida e gravetos queimados, respira novamente o ar que machuca. Sente a dor louca, o impulso da árvore partida, os músculos soltos, os ossos quebrados e a alma sem destino.
Respiro com dificuldade. Estou arfando, deitada e empalhada, cheia de sapos ao meu redor. Vomito insetos na floresta seca, ao lado do lago lodo fundo, onde não me afoguei. Há muitos besouros e me sinto invertebrada. Meu corpo não se mexe. Pulsa, mas não continua.
Prendo a respiração. Sinto que sufoco. Então o silêncio que digere as mágoas e deixa os insetos morrerem de fome, começa a produzir um zumbido retilíneo, baixo e uniforme. Meus poros queimam e as plantas carnívoras começam a abrir-se para si mesmas.
Dessa forma, os dentes e as bocas digerem a madeira de meus órgãos, o corpo se inflama, pára. A floresta queima, a água seca, os ossos derretem e o cristal se liquefaz.
Há um zumbido...
por Nathalia Lorda
Meus músculos doem, minha cabeça já não pensa e meus órgãos não existem. Sou um palpitar de esperanças findas, loucas, sensitivas e sensuais. Elas estão no abismo, num rapel sem volta, sob uma pedra escorrega no ar. Estou no fim do poço azul, no lago lodo cristalino do céu da manhã.
Estou no fundo do lago, no espelho invertido de cristal. Observo o céu azul distante de meu olhar. Meu coração quer parar de bater. Um inseto está zumbindo, louco a dar voltas, pelo jardim seco que cerca a água completa de desilusão.
Sou triste e me sinto árvore. Não tenho raízes e estou prestes a ser esmagada, cortada, arrancada. Estou dilacerada. Do fundo do lago, do abismo, de minha boca, saem bolhas de silêncio. Em meus olhos, o crepitar se cala, o espaço umedece e o fogo de minha pele se extingue.
Estou sozinha. A madeira em mim se quebra. Ouço um zumbido. Estou cansada.
Meus ossos partidos riem do músculo frágil, da alma escassa e de meu órgão, que não quer palpitar. Agora, sou invertebrada. Sou volúpia, sangue e nada. Meu corpo dói e meu coração não existe, não pulsa. Melhor assim. Proteção. Sangrar sem dor e sem amor.
O zumbido que não para, penetra em meus ouvidos e em minhas entranhas... Estou sozinha, estou cansada e há um inseto.
Minhas asas estão grudadas, estou no fundo do lago lodo poço. Tento respirar e encontrar a superfície, tento encontrar uma saída. A luz clara está acima, a película transparente de azul claro, ainda está distante. O calor aperta, minha febre sobe.
Quero um último suspiro, mas o zumbido... O último suspiro deve ser como um zumbido retilíneo, baixo, uniforme e prolongado... Deve ser como um inseto doente. Estou cansada, estou sozinha.
O quadro de água de cristal se reflete em meus olhos secos, fixos, duros e está impregnado em meu espírito marejado de suor. Eu tento sair, mas o percurso é longo e parece que não se completa, se dilata e perdura no tempo... Vejo o céu, a cerejeira e o inseto a dar voltas. Ouço o barulho, sinto a febre.
Quero desistir, mas ele ainda pulsa. O órgão.
Num inesperado impulso líquido, involuntário, rápido e inverossímil, de corpo desfigurado e alma sem desenho, nado; largo as asas de anjo mutilado e chego à superfície, chego ao quadro de cristal. Estou sem ar, respiro. Outra vez e sempre.
Por que volto? Por quê? Deixem-me em paz de lagartixa fria, seca e transparente. O instinto não me deixa ir. Gostaria de poder parar. Isso dói. Mas tenho que continuar pulsando para me dilacerar outra vez.
Meu corpo invertebrado, molhado, como lei de Sísifo, outra vez, repleto de lodo, de sangue fria, de repteis dilacerados, de garças comidas,de algas sem vida e gravetos queimados, respira novamente o ar que machuca. Sente a dor louca, o impulso da árvore partida, os músculos soltos, os ossos quebrados e a alma sem destino.
Respiro com dificuldade. Estou arfando, deitada e empalhada, cheia de sapos ao meu redor. Vomito insetos na floresta seca, ao lado do lago lodo fundo, onde não me afoguei. Há muitos besouros e me sinto invertebrada. Meu corpo não se mexe. Pulsa, mas não continua.
Prendo a respiração. Sinto que sufoco. Então o silêncio que digere as mágoas e deixa os insetos morrerem de fome, começa a produzir um zumbido retilíneo, baixo e uniforme. Meus poros queimam e as plantas carnívoras começam a abrir-se para si mesmas.
Dessa forma, os dentes e as bocas digerem a madeira de meus órgãos, o corpo se inflama, pára. A floresta queima, a água seca, os ossos derretem e o cristal se liquefaz.
Há um zumbido...
por Nathalia Lorda